Se o número de infectados seguir dobrando a cada 54 horas, como disse a Cecilia, este sábado estaremos comentando tristemente os mais de 10.000 casos no Brasil, e contando as dezenas de mortes, a insuficiência dos hospitais, o caos e o horror de uma pandemia que está longe de acabar. Na Itália de seus 5,1 mil leitos de UTI, metade estão ocupados por pacientes de covid-19 – e lembrem que todas as demais patologias e acidentes seguem acontecendo no país. Os acidentes de carro, os infartos, os pacientes terminais de câncer, tudo isso ainda acontece todos os dias.

O sistema ruiu. Um em cada dez infectados é médico ou enfermeiro, e eles precisam ser substituídos – eventualmente por médicos venezuelanos, cubanos e chineses. Até dois dias atrás, 14 médicos tinham falecido por covid-19 no país. Em conversas com amigos italianos, eles estão chamando o momento histórico de Terceira Guerra Mundial. É como todos se sentem. 

Vocês precisam saber dessas coisas por que precisam se preparar, como os 80% de italianos que ‘acreditavam fortemente’ que a mídia exagerava ao reportar sobre o impacto da doença também precisavam. É hora de conscientizar amigos e familiares de que a situação, para muitos, será dramática. Mas é preciso também cuidar da cabeça, ter empatia, pensar no vizinho como alguém que você pode ajudar a salvar. Chegou a vez de tentar com todas as forças viver uma vida comunitária nos pequenos gestos de amor.

Em janeiro de 1983, em apenas duas semanas, Françoise Barré-Sinoussi e sua equipe descobriram o HIV – o vírus que causa a Aids. Em um depoimento nesta semana, ela disse, sobre a missão de um cientista: “Tentar trazer algo importante para a sociedade, para os outros. Se você fizer isso, no fim de sua carreira você se sentirá bem.” Vale pra todos nós.

Toque de cotovelo e bom final de semana.

Texto extraído do Newsletter do portal The Intercept Brasil