Em reunião no Instituto do Coração (Incor), São Paulo, na tarde do dia (11/03), estiveram presentes os renomados médicos brasileiros Davi Uip, Marcelo Amato, Fábio Jatene e Esper Cavalheiro.


Segundo o infectologista David Uip, nos próximos 4 meses, na grande São Paulo, aparecerão 45 mil casos de Coronavírus. “Vamos precisar de UTI para 10 a 15 mil casos, e não existe UTI de 10 mil leitos disponíveis”, diz em áudio de INQ.report o médico cirurgião Fábio Jatene.

David também explicou que, a partir de ontem, os casos explodiram no Brasil, pois já existe a transmissão que os médicos chamam de ‘comunitária’. “A partir de agora, quem não foi viajar vai passar o vírus para o outro que foi viajar, não apenas o contrário”, continua Fábio Jatene.

Os médicos enfatizaram o cuidado com pessoas de idade, pessoas muito idosas não devem se expor de jeito nenhum, reduzir ao máximo a possibilidade de contágio. Nos idosos, a taxa de mortalidade é, em média, de 15% a 18%. Nos jovens, a média de mortalidade é de 0,2%.

Eles mostraram as imagens de tomografia dos casos da China, dos casos do Brasil. “É impressionante como é parecido, começa com lesões pulmonares opacas bilaterais, padrão vidro-fosco, e evoluem como espotes de condensação bilateral”, continua Jatene. O raio X muitas vezes não pega os focos pulmonares, apenas a tomografia. “Este paciente do Hospital 9 de Julho [São Paulo] veio, fez raio X, iam dispensá-lo, fizeram a tomografia e o pulmão estava coalhado de lesões”.

O Hospital das Clínicas (SP) já destinou a UTI do 11º andar do Instituto Central de 75 leitos apenas para Coronavírus, estão de prontidão. Na sequência, os leitos do Incor serão mobilizados. Julga-se que serão insuficientes, porque nessa doença a transmissão é de 1 caso para 2 ou 3 pacientes, às vezes 4. Uma vez que a doença se instala, o pico de piora é rápido, entre 5 e 7 dias.

Marcelo Amato explicou que o ideal é entubar o doente o mais cedo possível. Na China, insistiram em ‘pressão positiva nas vias aéreas’, sem intubação. Isso não melhorou os doentes e disseminou a doença, pois o vírus vaza pela máscara e o ambiente fica contaminado.

“Na China, os enfermeiros usam o escafandro [máscara] para tratar dos doentes, mas para não ter que tira-lo usam frauda e trabalham de frauda, fazem as necessidades na frauda. O problema é que, quando tiram a frauda, se contaminam, pois a roupa toda está contaminada”, explica Jatene.

É muito difícil não se contaminar no momento da troca da roupa. Ainda na China, com a intubação, reduziu-se a transmissão, mas cresceu a transmissão entre enfermeiros, porque as secreções e excretas corpóreas, como urina e fezes dos pacientes, contaminam a equipe enfermagem.

Amato também explicou que a média na China e na Itália é de 3 semanas de intubação, com ventilação mecânica, para a recuperação dos doentes.

A previsão é de 4 meses para resolver o surto do Coronavírus no Brasil. “Vai vir com força, contaminar um monte de gente, mas ano que vem deve virar um vírus normal, pequeno, porque quem tinha que [se] contaminar já [se] contaminou, quem não tinha resistência já adquiriu e os jovens não vão demonstrar a doença”, conclui Jatene. Mas o problema é que não se sabe como é o comportamento do vírus aqui, no calor: se será melhor, pior ou igual. “Isso ninguém sabe, não tem nenhuma evidência científica de que será diferente”.