A quarentena causada pelo coronavírus já é uma realidade nas grandes cidades de todo o mundo. Aqui no Brasil, ela não foi institucionalizada pelo Governo Federal, mas estados já tomaram medidas para fechar o comércio e reduzir a movimentação de pessoas e aglomerações para que a crise de Covid-19 não se torne incontrolável. Sob o mantra de achatar a curva e reduzir o afogamento do sistema de saúde, milhares de pessoas estão ficado em suas casas. A redução dos empregos e a desaceleração da economia já mostram seus impactos ao redor do planeta e no Brasil também. A vontade de que a vida normal volte é grande, mas segundo os especialistas, a chance de que a quarentena acabe rápido é bem pequena.

Em recente mesa de debates com profissionais de saúde promovida pelo UOL, o Dr. Dráuzio Varella reiterou que ‘vai demorar muito tempo a voltar’. O médico e comunicador que tem grande experiência com epidemias – especialmente a de HIV nos anos 80 – deixou claro de que o movimento contra a pandemia pode durar meses até que sejam desenvolvidas maneiras de tratar a doença e criar prevenção.

Tínhamos visão benigna da epidemia, mas estamos numa situação de guerra. Esquece a vida normal, ela não vai existir por muito tempo. Não vai ser normal porque não poderá ser. Daqui a quanto tempo vai acontecer? Não tenho ideia, ninguém tem ideia. Na prática, estamos aí, quando começou? Em dezembro, em janeiro sabemos de lá. Tem três meses, é impossível fazer previsões sobre o futuro”, afirmou o médico durante o debate.

A ideia de que só será possível retomar uma vida normal quando a vacina for desenvolvida – em 1 ano e meio, segundo as expectativas mais otimistas – está cada vez mais sendo aceita dentro do debate médico. Até lá, a retomada dos serviços deve ser delicada para que novas ondas da doença – como o início da segunda onda que tem dado sinais de retomada na China. A ideia reforça o que o biólogo Átila Iamarino havia dito no último ‘Roda Viva’.

Não quero dizer que o mundo em que a gente vivia não vai voltar, mas não é para ele que vamos voltar. De imediato não poderemos voltar porque até ter uma vacina e todo mundo estar protegido, ou a gente sacrifica 15% dos idosos do mundo ou a gente toma precauções e se protege até que tenhamos uma vacina”, disse o pós-doutor em  microbiologia ao Roda Viva, da TV Cultura.

Dráuzio tem atentado para os problemas brasileiros, como o sucateamento do SUS e a desigualdade social, que irão mostrar suas faces mais cruéis durante a pandemia do coronavírus.

Nós estamos pagando o preço da desigualdade social. Sempre encaramos isso com naturalidade. Vamos pagar o preço de termos construído estádios na Copa (do Mundo de 2014) que hoje estão sendo transformados em hospitais. Não sabemos como a epidemia vai se disseminar em um país com essa desigualdade social. Sabemos o que está acontecendo em países ricos. No Brasil, não, agora que nós vamos saber. E pode ser terrível”, afirmou.

Fonte: Hypeness