Sabe o que tem em comum entre assistir a um lançamento da Netflix e pilotar um caça F-16? Os dois funcionam com programas de códigos abertos. O streaming utiliza o Linux dos servidores da Amazon Web Service, enquanto o jato executa clusters do Kubernetes. Esses são apenas dois exemplos de uma coisa que está no nosso dia a dia sem nem ao menos percebermos — ok, pilotar um caça não é algo tão trivial assim, mas vocês entenderam. O open source é uma maneira de desenvolver e distribuir as novidades, onde toda a programação é feita por  usuários de diferentes lugares do mundo. O software só precisa de um corpo diretivo para administrar as alterações feitas pela comunidade, a fim de permitir que ele rode perfeitamente e sem linhas maliciosas na codificação. Esse controle é feito através de repositórios públicos como o GitHub ou GitLab, com as vantagens de maior velocidade e segurança sendo as mais tops.

O código aberto é preferido principalmente para projetos em amadurecimento: a troca de informações dos desenvolvedores ajuda a aprimorar o programa. Além de ser feito a várias mãos, também tem uma velocidade maior na finalização. Mesmo grandes nomes da tecnologia veem vantagens nesse tipo de codificação, por mais que suas marcas — leia-se seus nomes — não sejam vinculadas ao código, que é “de todos”. E para quem pensa que esse tipo de programação é mais vulnerável a ataques ou invasões, a realidade é exatamente a oposta. O fato de ela ser aberta faz com que hackers e técnicos de segurança trabalhem para fortalecer o software, procurando e corrigindo possíveis falhas que podem surgir — o Linux e o Kubernetes são excelentes exemplos disso.

Outro detalhe é que não são apenas os softwares que se beneficiam do código aberto. Nos últimos anos, diversos hardwares estão sendo desenvolvidos de forma colaborativa. O RISC-V, apresentado em 2010, é um conjunto de instruções para o design de chips com arquitetura em open source. E ele tem sido cada vez mais usado porque aumenta a velocidade do desenvolvimento de chips. A OpenRAN, uma tecnologia da rede 5G em código aberto, é outra que tem ganhado força nos últimos anos, tanto que tem sido usada por grandes potências, como o Reino Unido e o Japão. Porém, nem todo mundo pensa assim: as novas legislações dos EUA não utilizam esse tipo de conhecimento compartilhado, mas, mesmo assim, têm o intuito de competir com a China de igual para igual.

Os legisladores norte-americanos ainda acreditam na tecnologia vertical, ignorando as vantagens que o conhecimento compartilhado oferece. Assim, apenas empresas ou indivíduos são recompensados por inovações, em um processo que envolve muito mais politicagem do que necessariamente avanço tecnológico. Segundo analistas, se os EUA regulassem suas diretrizes a partir do código aberto, o país estaria muito mais propenso a competir igualmente no século 21. Apostar no open source é uma forma de garantir que você não será bloqueado ou ignorado por possuir uma tecnologia própria, que apenas a sua empresa é capaz de utilizar. O Linux cresceu dessa forma: desde que foi fundado, em 1991, passou a ser adotado como alternativa ao Windows, já fazendo parte da rotina de de empresas como a Dell e a IBM.

Apesar de os legisladores dos EUA não estarem na vibe desse software, a China está mais do que abraçando a tecnologia. Para quem busca um rápido crescimento, essa é uma atitude sensata e natural, já que abre portas para mentes brilhantes de todo o mundo. Ainda assim, algumas pessoas acreditam que o código aberto também pode expor uma rivalidade perigosas: bons programas comunitários podem ser adaptados para um uso mais malicioso. Por outro lado, o Departamento de Defesa dos Tio Sam e outras instituições federais continuam usando e se beneficiando dos recursos do open source. Só que essa é uma herança da era Obama, na qual a transparência ainda era uma prioridade. Para analistas, isso deveria continuar, já que manteria o país como “dono” da tecnologia, ainda que ela seja compartilhada. Em tempos sombrios como os de hoje, com uma pandemia e uma guerra geotecnológica em andamento, o código aberto pode fornecer soluções rápidas para o desenvolvimento humano.


Texto: The Brief