"Foi muito bom viver", foram as últimas palavras ouvidas pelo médico intensivista Artur Milach antes de intubar um senhor de 75 anos. A frase o fez chorar pela primeira vez em muito tempo durante esta pandemia. Depois de um ano, ele achava que já havia se emocionado o suficiente, mas com a piora da situação no país o que ele tem visto são pacientes chegando cada vez em pior estado. Idoso e com muitas comorbidades, o senhor pediu para falar com a família antes de ser intubado. Como muitos dos pacientes atendidos por Milach, ele disse aos familiares que os amava e se preparou para o procedimento.
"Quando eu vou intubar um paciente, eu fico perto da cabeça e vou conversando com ele. Nesse momento, ele pegou na minha mão disse: 'Foi muito bom viver, obrigado'. Eu nunca tinha escutado isso, de nenhum paciente. De falar numa serenidade", lembra.
O quadro do senhor de 75 anos era grave e ele morreu dentro de 24 horas. "Foi muito duro. Fazia tempo que eu não chorava na pandemia. Esse dia eu chorei bastante quando cheguei no carro. Esse paciente eu levei a semana inteira comigo, isso me fez ressignificar inclusive a minha força pra trabalhar."
O que mais revolta o médico é ver que apesar de já ter passado um ano, ainda há aqueles que não acreditam na doença. "No começo da pandemia isso estava me adoecendo e aos meus colegas. A gente olhava e pensava: 'Estou trabalhando feito um louco alucinado, a doença está aí, a gente está vendo crescer. De onde essas pessoas tão dizendo que não tem nada?", desabafa arthur Milach, médico intensivista.
"Um amigo em uma rede social escreveu que as prefeituras estavam manipulando a quantidade de mortos. Eu respondi que a prefeitura só faz a estatística com base na declaração de óbito. Eu que preencho a declaração de óbito, eu não estou mentindo".
Em todo esse tempo, o intensivista não se contaminou com a covid-19. Mas muitos dos seus colegas não tiveram a mesma sorte.
"Um amigo da linha de frente adoeceu, ficou entubado em estado gravíssimo. Hoje ele está na reabilitação, tentando viver sem o cateter de oxigênio em casa. Médico jovem, minha idade, mais ou menos, 40 anos. Perdi amigos de infância, colegas de turma.".
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