Após aparecer na Mídia Mineira como a primeira cidade do estado a iniciar vacinação de profissionais da educação, prefeitura decide marcar retorno as aulas presenciais diante de um recorde de casos de novas infecções e mais de 360 mortes.

Daniel Carlos - Especial para o Vitrine

Após autorizar a reabertura desordenada do comércio e ver disparar o número de mortes e novas infecções pela Covid-19, o executivo Luziense inova mais uma vez e deverá comunicar o retorno as aulas presenciais, com menos de 20% da população de Santa Luzia imunizada. 

Não basta o atraso na vacinação, a escassez de insumos, a demora na entrega de vacinas e o enorme aumento no número de novas infecções e mortes pelo Coronavirus na cidade. A Prefeitura de Santa Luzia, acelera a vacinação de profissionais da educação, contrariando protocolos, para retorno das aulas presenciais, mesmo sem nenhuma criança imunizada e o crescente número de jovens contaminados e vitimas fatais da doença. 

O Prefeito Luziense, Christiano Xavier, publicou em sua Página oficial, divulgando o cronograma de vacinação para Profissionais da educação e anunciando datas para um possível retorno das aulas presenciais. 

Segundo infectologistas, como nem metade da população foi vacinada, o retorno de aulas presenciais pode ser um tiro no pé para uma gestão preocupada com o controle de novas infecções. Se infectadas, as crianças podem contaminar pessoas do grupo de risco que ainda não terminaram sua imunização (que tomaram as duas doses).

É óbvio que o deficit escolar e os transtornos causados às crianças durante o período de Isolamento podem fazer muito mal ao seu desenvolvimento intelectual e cognitivo ao longo do tempo, porém a Prefeitura Luziense, até o momento se mostrou incapaz de frear o crescimento do número de novas infecções e mortes (que tem crescido exponencialmente) além de ser a segunda cidade de minas gerais que mais envia pacientes infectados para a capital. Se a saúde local não é capaz de garantir atendimento aos luzienses, não é razoável colocar em risco crianças que nem perspectivas de uma imunização a curto prazo possuem. Outro ponto é que Santa Luzia, desponta como uma das cidades com menor índice de testagem de infectados pela covid-19 na Região Metropolitana de BH. 

Segundo a OMS, Medidas propostas para um possível retorno a aulas presenciais deveria haver, maior ventilação de salas e demais ambientes escolares; testagem de alunos e profissionais, rastreamento de casos e distribuição de EPI's eficazes. Dentre as exigências, até o momento, o nível de testagem de profissionais da educação que atuam em contato direto com pais de alunos nas entregas das atividades é mínimo. Sabe-se também que não há distribuição ou Uso de EPI's corretos, mas apenas Máscaras (que não a N95) e Alcool em gel, o que não garante a proteção destes profissionais. Além do mais a educação infantil tem progredido com o ensino remoto emergencial, seja através do site da Secretaria Municipal de Ensino, seja através da entrega de atividades para os alunos fazerem em casa.  

Segundo a Fiocruz, que utiliza como referência o protocolo do Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, a volta às aulas presenciais representa alto risco de transmissão e surtos na situação que se encontra a cidade de Santa Luzia. O Alto nível de ocupação das UTI's (Unidades de Terapia Intensiva) é indicativo de que a pandemia na cidade não está sob controle. 

Experiências de aulas presenciais

Na primeira tentativa de volta às aulas, em 5 de fevereiro, a cidade de São Paulo registrava 343 novos casos diários por 100 mil habitantes. As escolas podiam receber até 35% dos estudantes por turno, mas receberam apenas 600 mil dos 3,3 milhões de alunos que poderiam retomar as atividades. Mesmo assim, o governo Doria registrou 4.084 casos confirmados e 24.345 casos suspeitos de covid-19 nas escolas, com a morte de 21 pessoas. O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) contesta o número e diz que foram 67 mortes.

Esses casos não consideram os ocorridos na volta às aulas na rede municipal da capital paulista, que registrou 854 surtos de covid-19 nas escolas. São considerados surtos os registros de dois ou mais casos de covid-19 simultâneos nas escolas. Também não estão contemplados todos os 645 municípios do estado, já que pelo menos 100 cidades não retomaram as aulas em fevereiro.

Além disso, embora haja consenso de que as escolas não são espaços de alta transmissão da covid-19 em si, a volta às aulas leva a uma maior circulação de pessoas. Seja do contingente de trabalhadores da educação, sobretudo professores – que raramente trabalham em apenas uma escola –, como dos próprios estudantes, além das pessoas envolvidas no transporte dos alunos. 

Crianças tem mais chance de se contaminar do que transmitir o Vírus

Um trabalho de pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), da Universidade da Califórnia e da London School of Hygiene and Tropical Medicine indica que as crianças têm mais risco de serem infectadas do que de transmitirem o vírus aos adultos.

Segundo a publicação, Se os adultos forem imunizados e as crianças não, elas podem continuar a perpetuar a epidemia. Se no mínimo 85% dos indivíduos suscetíveis precisam ser imunizados para conter a pandemia de covid-19 em países de alta incidência, esse nível de proteção só pode ser alcançado com a inclusão de crianças em programas de imunização, principalmente no Brasil, onde 25% da população têm menos de 18 anos", conclui o texto do estudo.

É evidente a necessidade de volta às aulas, principalmente para as comunidades mais vulneráveis onde a escola é uma importante fonte de nutrição destas crianças, porém, em uma cidade com índices altos de novas infecções e mortes como Santa Luzia, o risco é muito alto. 

Para se ter uma ideia, Nas últimas 24 Horas (segundo boletim divulgado pela Prefeitura) 66 novas pessoas foram contaminadas pela Covid-19 e 5 pessoas morreram. É como se a cada 12 novos infectados, um morresse. São dados assustadores. Isto sem contar que o Hospital de referência da cidade não consegue atender a demanda desde janeiro deste ano. Mais de 70% dos Pacientes graves de Santa Luzia são atendidos na rede de Belo Horizonte, isto quando encontram uma vaga. 

Os Professores e profissionais da educação merecem ser imunizados, porém não é hora de retorno as aulas. Primeiro imunizamos todos, depois pensemos no retorno às aulas. Pensar o contrário é ser irresponsável.