Água captada na estação de Bela Fama, em Nova Lima, é responsável por 60% do abastecimento na região metropolitana de BH. Mas Copasa garante que racionamento não é cogitado no momento.

Quem conversa com moradores de cidades e comunidades próximas ao rio das Velhas vai encontrar histórias parecidas. Antes caudaloso, o rio parece a cada período de seca minguar ainda mais. Neste inverno seu nível está tão baixo, que a Copasa teve de reduzir a captação de água na estação de Nova Lima em 500 litros por segundo. Como esse ponto é responsável pelo abastecimento de 60% da região metropolitana de Belo Horizonte, fica a preocupação sobre um possível racionamento em 2021, caso a estiagem se prolongue por muito tempo.

Presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), Poliana Valgas relata que a situação do rio das Velhas neste ano é mais impressionante do que foi observado em temporadas anteriores. “Já existia um estado de atenção, mas há duas semanas percebemos uma queda na vazão de maneira latente, antecedendo uma situação que era esperada para setembro”, afirma.

Para que o rio permaneça vivo nesse momento de estiagem, o comitê tem realizado reuniões com diferentes entidades para verificar o que cada um pode fazer para evitar uma redução ainda maior no volume. Para a Copasa, cabe a redução na captação na estação Bela Fama, enquanto a mineradora Anglo Gold pode liberar parte da água de seu reservatório, por exemplo. “Vemos o que cada um pode fazer para não piorar a situação, para que não haja restrição no uso do rio”, dia Poliana.

CLIQUE E SAIBA MAISNa semana passada, o CBH Rio das Velhas divulgou um alerta sobre a vazão do rio. Um relatório do dia 28 de julho mostrava que a vazão do manancial estava abaixo de 10,4 metros cúbicos por segundo, volume mínimo considerado seguro para o rio. Na última sexta-feira (6), a medição foi de 10,08 metros cúbicos por segundo, volume que está um pouco abaixo do mesmo período no ano passado, de acordo com a Copasa.

Além dos dados técnicos, há a observação de quem tem contato próximo com o rio. A agricultura Maria de Fátima Carneiro, de 52 anos, mora há 25 anos no distrito de Honório Bicalho, em Nova Lima, próximo à estação da Copasa Bela Fama. “O rio antes era bem cheio, hoje tá muito vazio, tá muito baixa a água”, garante a produtora de hortaliças, acrescentando que os agricultores têm de usar a água tratada por conta da poluição do rio das Velhas.

É preciso investir na preservação ambiental

São muitos motivos que levam à mudança no rio das Velhas ao longo de 51 municípios, entre a nascente em Ouro Preto e a foz em Várzea da Palma, mas a degradação ambiental é a maior delas. Essa questão é ainda mais latente na região de Nova Lima, cidade que vê sua área verde constantemente ameaçada pelo avanço da mineração e da especulação imobiliária, segundo Poliana Valgas.

Para ela, é fundamental que cada pessoa entenda sua parte nessa realidade. O morador da zona urbana pode reduzir o consumo de água, enquanto o da zona rural pode preservar nascentes e matas ciliares. “Nesse momento, precisamos do envolvimento de todos. A começar pelo produtor rural que tem uma nascente em sua propriedade e sabe que não pode colocar o gado ali. O sistema é um só. A gente pensa no rio e esquece que o sistema é formado por vários rios e córregos que, se forem degradados, acontece um efeito cascata”, explica.

A Prefeitura de Nova Lima informa que tem implementado ações de educação ambiental formal e informal sobre o uso racional da água e o consumo consciente. Dentre as ações, estão a recomposição de mata ciliar e palestras educativas, segundo a administração municipal.

Lançamento de esgoto é um grande problema

O rio das Velhas corta a zona urbana de alguns municípios da região metropolitana de Belo Horizonte. Um deles é Raposos. Nessa época de seca, com o rio baixo, toda a região central da cidade sofre com o mau cheiro. “A situação até melhorou um pouco, algumas empresas pararam de jogar o esgoto no rio, mas ainda é uma questão muito séria”, afirma Evandro Augusto Zeferino, secretário de Meio Ambiente de Raposos.

Poliana Valgas explica que o lançamento de esgotos no rio das Velhas também é um problema que deve ser resolvido com celeridade, para garantir a vida aquática. “Com a matéria orgânica em grande quantidade, cai o oxigênio e o rio entra num processo de declínio”.

E a preocupação sobre o rio não é reservada apenas no período de seca. Mauro Johnson, de 26 anos, morador de Honório Bicalho, conta que o rio mudou muito depois das chuvas intensas do verão de 2020. “O rio deu uma alargada por causa da enchente, comeu a beira do barranco, barreou tudo em torno. Deu um trabalho grande para voltar tudo ao normal”, relata.

Poliana explica que a mudança na calha do rio faz com que ele fique mais largo, raso e assoreado. “Cidades como Raposos, Sabará e Santa Luzia poderão ser mais impactadas por enchentes no período de chuvas, por causa da mudança na topografia do rio”, esclarece.

Sistema Paraopeba está em bom nível

A Copasa garante que a redução de vazão na captação no Rio das Velhas, até o momento, não está afetando o abastecimento na região metropolitana de Belo Horizonte, porque conta com outras fontes de produção como o Sistema Paraopeba, que reúne os reservatórios do Rio Manso, Serra Azul e Várzea das Flores.

Atualmente, o volume armazenado nos reservatórios está em torno de 81,6%, o que garante estabilidade no abastecimento, segundo a companhia. “O volume atual está um pouco abaixo do ano de 2020 devido às precipitações que ocorreram bem acima da média histórica no início daquele ano. Até o momento não há previsão de racionamento na RMBH”, diz a Copasa por meio de nota.

Enquanto aumenta o uso dos reservatórios do Sistema Paraopeba, a empresa administra a captação no rio das Velhas, que costuma corresponder a 60% de toda a água enviada aos municípios da Grande BH. “A Copasa utiliza essa operação técnica (de redução) justamente para manter e proteger a vida do Rio das Velhas. A Companhia está captando menos que a outorga que possui do Igam (Instituto Mineiro de Gestão de Águas) para manter o residual estabelecido na legislação”, diz a empresa.

A companhia diz ainda que, juntamente com Igam, Comitê de Bacia do Rio das Velhas e outros usuários de recursos hídricos a montante da captação no local, entre eles a Cemig e a AngloGold Ashanti, toma medidas para mitigar o impacto de redução da vazão do rio. A Copasa disse ainda que realiza manutenções preventivas na rede e faz campanhas educativas para o uso consciente da água, além de ampliar o trabalho de verificação das intervenções irregulares no sistema de distribuição (o que popularmente é conhecido como gato de água).


Fonte: O Tempo