A CPI da Covid é o maior documento histórico produzido no Brasil sobre a pandemia. No futuro, poderemos consultar seus arquivos para entender como um governo desalmado foi responsável pela morte de mais de meio milhão de pessoas – pessoas essas que ele tem o dever constitucional de cuidar.
A CPI da Covid é um documento histórico tão importante que ela diz muito até mesmo sobre as coisas que ignora. Então que se diga: a CPI ignorou a responsabilidade dos militares no morticínio brasileiro.
O Brasil está entre os 10 países com mais mortes per capita do mundo, e este sangue escorre pelas mãos de agentes fardados infiltrados na máquina pública.
🍕 O coordenador do Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19 era um militar (Braga Netto)
🍕 O ministro da Saúde era um militar (Eduardo Pazuello)
🍕 O Secretário-executivo do Ministério da Saúde era um militar (Élcio Franco)
Há, no relatório de Renan Calheiros, o pedido de indiciamento dos três. Portanto, as Forças Armadas foram responsabilizadas, você dirá. Mas não.
O repórter do Portal Intercept Guilherme Mazieiro levantou ao menos mais duas dúzias de nomes de militares em postos-chave da estrutura de combate à covid. Eles estão espalhados por ministérios e outras autarquias, cuidando de contratos, logística, saúde indígena. Nenhum deles aparece nas investigações ou no relatório.
O Exército é o coração do governo Bolsonaro, é natural que seu alto-escalão seja povoado por homens de farda que também têm responsabilidades sobre a gestão da pandemia.
🪖Edson Leal Pujol
Comandante do Exército quando destravou recursos públicos para a produção de cloroquina no laboratório da corporação. Foi Pujol que deu aval para a confecção de quantidade imensurável de tabletes do medicamento, na época já sabidamente ineficaz.
🪖Paulo Sérgio de Oliveira
O dinheiro para a produção de cloroquina no laboratório do Exército saiu do DGP, o Departamento-Geral do Pessoal. O DGP tinha um chefe, Artur Costa Moura, que foi chutado de lá assim que a ordem de Pujol foi recebida. No lugar dele assumiu o general Paulo Sérgio de Oliveira. Quem é Paulo Sérgio de Oliveira? O atual comandante do Exército, substituto de Pujol.
🪖Luiz Eduardo Ramos
O ministro que criticou a imprensa dizendo que jornalistas mostravam muito “caixão e corpo”, pedindo para que nos dedicássemos mais a publicar “coisa positiva”.
🪖Fernando Azevedo e Silva
Jair Bolsonaro em 21 de março 2020, em seu Instagram: “Agora há pouco me reuni com o senhor ministro da Defesa [na época, Fernando Azevedo e Silva] onde decidimos que o laboratório Químico e Farmacêutico do Exército deve imediatamente ampliar a sua produção deste medicamento".
Nas palavras do próprio presidente, a decisão pela produção amalucada do remédio mágico foi tomada, também, por Ramos.
O relatório de Renan confirma: “Essa foi uma decisão conjunta do Presidente Bolsonaro com o então Ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva.”
Qual o problema disso tudo? Um problema de ordem matemática, digamos. Observe o número de vezes que cada um desses personagens é citado no relatório da CPI (páginas):
Edson Leal Pujol: zero
Paulo Sérgio de Oliveira: zero.
Luiz Eduardo Ramos: uma.
Fernando Azevedo e Silva: uma.
E nenhum deles está na lista de indiciados.
Para efeito comparativo, personagens muito menos importantes aparecem em inúmeras citações, todos por propagar notícias e teses que induziram pessoas a contrair covid (como fez Eduardo Ramos, por exemplo). E nenhum deles era parte da gestão da pandemia.
Deputado Carlos Jordy: 6 vezes
Deputada Carla Zambelli: 8 vezes
Jornalista Allan dos Santos: 14 vezes
Os mais de seis mil militares que ocupam o governo são parte fundamental da máquina bolsonarista, de ministros a secretários. O Exército foi o executor-em-chefe da gestão da pandemia, e seria dele o mérito total caso o Brasil “vencesse a covid”. Um ministro general, um remédio produzido pelas Forças Armadas. Acontece que o Brasil foi destroçado pela covid. De quem é a responsabilidade maior? Para além de seus méritos, a CPI nos serviu uma pizza verde-amarela.
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