Defesa civil municipal estima que 7 mil pessoas estejam desalojadas e 300 desabrigadas; saiba como doar

Considerada uma heroína no bairro Pantanal, em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte, Maria Geralda Moreira de Carvalho, 55, salvou 17 vidas. A senhora de 1,54m de altura não se apequenou diante do volume de água que atingiu 2m de altura inundando casas e fazendo da Rua Venceslau Brás um verdadeiro rio.  

Eu não podia deixar essas pessoas morrerem. Eu sei que corri risco, mas não podia deixá-las para trás”, conta ao descrever que não teve medo de realizar o ato de bravura. Apesar do susto, não houve registro de mortes. Ela chegou a colocar crianças nas costas e até mesmo atravessar adultos em um isopor da espessura e tamanho de um colchão de cama. 

Assim como os vizinhos, ela teve a casa toda inundada pela cheia do Rio das Velhas no último final de semana e não teve um móvel que saiu ileso ao mar de lama. Tentando limpar a própria residência, avalia que apesar das perdas materiais, o maior ganho foi ter salvado as pessoas, mas que ainda não sabe como vai retomar a vida. "Eu não sei o que vou fazer. Só Deus", conta com a voz embargada. "Porque ainda estou tirando muita coisa de dentro de casa e colocando para fora", aponta os colchões, guarda-roupa, roupas e eletrodomésticos envoltos numa camada grossa de lama.  

Ela mora de aluguel no local há quatro anos com duas netas e um filho adulto.  Atualmente, todos estão dormindo em um sítio que está servindo de abrigo para aqueles que não conseguem voltar às suas casas.   

Voluntários doam até café da manhã e matam fome de atingidos

Antônio Bráulio Machado, 32, pintor de parede, mora no bairro São João Batista, em Santa Luzia. Ele faz parte de um grupo social chamado Natal Feliz, que leva Papai Noel para entidades carentes na cidade. Na manhã desta quarta-feira, 12, ele e mais cinco colegas levaram café da manhã para moradores do bairro Pantanal, um dos mais atingidos com a cheia do Rio das Velhas. "As pessoas estão precisando de ajuda e é importante que mais pessoas venham aqui colaborar, doar alimentos porque há muitas pessoas necessitando", pontua.  

Antônio, que prefere ser chamado de Toninho, conta que fez uma campanha nas redes sociais solicitando arrecadação e até o momento conseguiram cerca de 400 pães, 50 litros de suco, 15 litros de café, 24 caixas de leite e três cestas básicas. "Ainda é muito pouco para suprimir a necessidade de todos os atingidos aqui", pontua.  

O pastor William Douglas, 29, da Igreja Pentecostal Fiel e Yeshua mobilizou voluntários para recolher doações e donativos para os moradores impactados pela cheia do Rio das Velhas. A igreja fica na Avenida Inconfidentes e também foi inundada. Willian conta que correu para limpar o quanto antes a congregação que está servindo de ponto de apoio aos atingidos desde segunda-feira.  

William foi responsável por conseguir que um dono de um sítio, na parte alta do bairro, cedesse o imóvel para hospedar cerca de 60 pessoas. Elas só poderão ficar no local até quinta-feira. Abrigada no local, Eva Lima dos Santos, 70, segura a identidade nas mãos como único objeto que conseguiu salvar da sua casa. "Perdi tudo que você pode pensar".  

Sentindo fortes dores no tornozelo direito e com inchaço nas pernas, Dona Eva conta que foi limpar a casa e se machucou. "Escorreguei e fui acudida pela minha vizinha. Eu sai engatinhando de dor. Tiveram que me dar banho". Devido às vias interditadas no bairro, ainda não conseguiu ir ao médico. "Por causa desse pé, não sei quando volto pra casa, porque lá não dá para entrar. Está tudo sujo", conta emocionada. 

Para o Babalorixá Willier de Xangô, fundador do Ylê Axé Pilão Odara, 48, quando o assunto é ajudar vidas e prestar solidariedade, é preciso somar forças. "Juntos somos mais fortes, independente de crença, do credo. Temos todos que nos ajudar", assevera. Ele foi doar mantimentos que arrecadou na igreja liderada pelo pastor William.  

É ajudando que se é ajudado. Foi com este espírito de solidariedade que o professor Diego Bueno, 39, foi até o bairro Pantanal levar cestas básicas. Ele que é coordenador do movimento Fazer o Bem Santa Luzia recolheu 160 cestas básicas para distribuir em diferentes pontos de apoio e casas no bairro. “  uma satisfação pessoal poder ajudar e é gratificante. Eu me sinto mais ajudado do que ajudando. Desde a pandemia , quando perdi a minha esposa, tenho feito esse tipo de ação voluntária - e isso tem me ajudado a seguir adiante, mesmo neste momento de tantas dificuldades, isso tem me movido desde então”, observa.   

QUEM QUISER DOAR

Natal Feliz – Interessados em realizar a doação de alimentos podem entrar em contato pelo telefone 31 98776-1801 ou pelas redes sociais no @natal.feliz.projeto. 

Fazer o Bem Santa Luzia -  Estão aceitando PIX pela chave 31984128130 , cesta básica, marmitex e produtos de limpeza e higiene pessoal. A rede social é @fazerobemsantaluzia. Ou pelo endereço: Rua governador Israel Pinheiro, 237, bairro Chácara Santa Inês. 

Igreja Pentecostal Fiel e Yeshua - A chave PIX é 31984309017. A maior necessidade neste momento é de cestas básicas, móveis e material de limpeza. 

LIMPEZA DE VIAS

A defesa civil municipal estima que 7 mil pessoas estejam desalojadas e aproximadamente 300, desabrigadas. O órgão, juntamente com o Corpo de Bombeiros, realizou o resgate de cerca de 100 pessoas ilhadas até a última terça, dia 11. Foram utilizadas aeronaves e embarcações. 

Segundo a prefeitura de Santa Luzia, algumas vias de acesso da cidade já foram desobstruídas para o tráfego de veículos:  Ponte Velha, Ponte Nova e  Rua do Comércio. Nesta quarta-feira, equipes realizam a limpeza da cidade na Avenida Beira Rio, próximo ao trevo do Vésper, Bairro Pantanal e na Avenida Raul Teixeira da Costa, no bairro Boa Esperança.  

Para retirar a lama e rastro de destruição deixado pelo Rio das Velhas estão sendo utilizadas cerca de 50 máquinas, entre caminhões hidrovácuos – que sugam a lama, caminhões pipa, caminhões basculantes, patrol e retroescavadeiras. 

A defesa civil informou que não realizou vistorias em imóveis para checar se há risco de desabamento de estruturas e risco geológico. Até o momento, o órgão trabalha na resposta aos chamados da população.


Fonte: Jornal O Tempo