Testemunhas contaram à reportagem que o militar parecia estar sob efeito de drogas; vítima teve morte cerebral confirmada

"Meu irmão era um homem trabalhador, nunca se envolveu em confusão alguma. Estava no lugar errado, na hora errada, e foi baleado por um irresponsável. Na covardia".

Esse é o relato do motorista Alexandre Teixeira dos Santos, 45, irmão do homem de 30 anos que foi baleado na cabeça, no último sábado, por um cabo da Polícia Militar. O crime aconteceu no bairro São Benedito, em Santa Luzia, região metropolitana de Belo Horizonte.

A vítima segue internada no hospital João XXIII. Segundo familiares, ele teve a morte cerebral confirmada.

Na versão do militar, de 37 anos, que estava de folga, o desentendimento a respeito do polimento de um carro teria provocado a discussão, que evoluiu para briga e terminou com um tiro de "auto-defesa".

Mas quem estava no local e testemunhou tudo conta que o cabo estaria sob o efeito de drogas, expondo a arma, e ainda atirou pelas costas da vítima.

Segundo Alexandre, o desentendimento começou depois que o militar não se lembrou onde estava o próprio veículo.

"Ele deixou o carro para ser polido e na metade do serviço ele ainda veio, elogiou o meu irmão que trabalha no lava a jato, pagou adiantado os R$ 150 e pediu para deixar o carro em um comércio aqui perto quanto estivesse tudo pronto. Foi esse o procedimento, tanto que a própria PM buscou o carro dele no local combinado depois do crime. Ninguém roubou o carro dele", relata.

O lava a jato funciona na casa da família, onde a vítima mora. Quem presenciou o fato relata o militar tentou invadir a residência e foi impedido pelo homem. Não houve luta corporal e nem voz de prisão, apenas ameaças com a arma e um tiro pelas costas.

"Eu cheguei logo depois do tiro e vi o policial ligando pro 190 e puxando a própria camisa, falando que estava sendo agredido. Ele ainda me ameaçou com a arma, perguntando se eu queria levar um tiro também", conta o auxiliar de cozinha  Glayson Teixeira, 54, outro irmão da vítima.

Policial estava surtado, dizem testemunhas

Segundo testemunhas, o autor do disparo estava visivelmente alterado, sob efeito de álcool e entorpecentes. Além do tiro que acertou a vítima, ele ainda teria feito outras ameaças, mesmo na presença na polícia.

"Mesmo depois que uma primeira viatura chegou, esse homem ainda apontou uma arma na minha cabeça, na presença de três polícias que mesmo vendo o que aconteceu, não tiraram a arma dele e nem deram voz de prisão", retalha Alexandre, que lamenta a perda do irmão. "Atiraram pelas costas na cabeça de um homem que nunca levou uma gota de álcool na boca, que tinha duas filhas, que trabalha numa mineradora, não tinha nada a ver com o lava-jato. Foi uma execução", finaliza.

A Corregedoria da Polícia Militar acompanha o caso. A respeito da ocorrência que resultou na morte cerebral de um homem, a partir de um fato que se deu no bairro São Benedito, em Santa Luzia, neste sábado (22/01), a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) esclarece que o policial militar estava de folga e à paisana e que o evento foi registrado pelo 35º BPM, com acompanhamento da Corregedoria da instituição. O policial militar foi preso em flagrante delito e conduzido à delegacia de plantão da Polícia Civil para adoção de providências cabíveis e apuração dos fatos.


Fonte: O Tempo e R7