Dois dias depois de Vladimir Putin colocar forças nucleares em alerta máximo, a Rússia começou a posicionar submarinos com capacidade nuclear e lançadores de mísseis intercontinentais em exercícios nas regiões noroeste e leste do país, segundo a agência de notícias Associated Press.

A Frota do Norte russa afirma que vários submarinos nucleares estão envolvidos no exercício para "manobras em condições de tempestade". O comunicado também diz que navios de guerra que protegem a península de Kola iriam se juntar ao treinamento.

Mais a leste do país, em Irkutsk, na Sibéria, forças estratégias posicionaram lançadores de mísseis balísticos intercontinentais em florestas da região, segundo comunicado atribuído ao Ministério da Defesa russo pela AP.

Não houve referências à ordem de Putin de colocar as forças nucleares do país em alerta máximo, feita em resposta ao endurecimento de críticas e sanções de países ocidentais à Rússia. Também não está claro, até aqui, se os exercícios fogem das atividades rotineiras de treinamentos e exercícios militares das forças russas.

Mas a movimentação se dá em meio ao prolongamento da invasão russa da Ucrânia, com bombardeios a grandes cidades como Kharkiv, a segunda maior do país, e a aproximação de um comboio de 64 km de tanques e outros veículos militares a Kiev.

Além disso, as sanções de Estados Unidos, europeus e aliados, começam a ter impactos mais fortes na economia da Rússia. O rublo teve desvalorização recorde, os juros dispararam e ações no exterior das principais empresas do país derreteram.

No domingo, a União Europeia reagiu à escalada do discurso do líder russo dizendo que ofereceria caças à Ucrânia para combater a invasão.

"Autoridades dos países líderes da Otan permitem declarações agressivas contra o nosso país, então eu ordeno o ministro da Defesa e o chefe do Estado-Maior [das Forças Armadas] a colocar as forças de dissuasão do Exército russo para o modo especial de combate", disse o presidente no fim de semana, segundo a agência estatal Tass.

Putin já havia deixado implícito no pronunciamento em que anunciou a guerra, na quinta-feira (24), que usaria seu arsenal nuclear como estratégia de dissuasão, ao dizer que interferências de outros país levariam a "consequências nunca antes vistas".

Finlândia e Suécia, países muito próximos da região onde os exercícios das forças nucleares acontecem, também foram ameaçados pelo governo russo, que não quer os dois países integrando a Otan (aliança militar ocidental). Impedir a entrada da Ucrânia no grupo é uma das principais demandas do Kremlin no conflito atual.

"A Finlândia e a Suécia não devem garantir sua segurança prejudicando a segurança de outros países. Se entrarem para a Otan, podem enfrentar sérias consequências militares e políticas", afirmou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, na sexta-feira (25).

O presidente russo também fez demonstrações de força com equipamentos nucleares antes mesmo da invasão de fato, quando ainda se temia um eventual conflito enquanto dezenas de milhares de soldados russos se posicionavam na fronteira com a Ucrânia.

Do centro de comando do Kremlin -e ao lado do aliado belarruso Aleksandr Lukachenko- Putin ordenou o disparo de dois modelos de mísseis hipersônicos, mísseis balísticos, de cruzeiros e dois mísseis do tipo que seriam empregados numa eventual guerra nuclear em uma série de exercícios.


Fonte: Folha