Ao longo da quarta-feira (6), bolsonaristas criticaram um discurso de Lula no qual ele defendeu que o aborto precisa ser discutido como uma questão de saúde pública, debatida entre o casal e, ainda, uma decisão da mulher. O que os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) talvez não saibam é que, mesmo conservador, Bolsonaro já teve opinião semelhante.
Antes de imaginar que um dia seria presidente e iria usar a proibição ao aborto como plataforma política, ele também expôs o que pensava sobre o tema e admitiu que já tinha vivido uma situação na qual discutiu a possibilidade do aborto. Essa entrevista é tão relevante para a família que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) chegou a citá-la no livro "Mito ou verdade", uma biografia que ele escreveu de Jair Bolsonaro. Em entrevista à revista Istoé Gente, em 2000, Bolsonaro foi perguntado se era favorável ao aborto e o então deputado federal sequer mencionou que deveria ser proibido.
- E sobre a legalização do aborto?
- Tem que ser uma decisão do casal.
- O senhor já viveu tal situação?
- Já. Passei para a companheira. E a decisão dela foi manter. Está ali, ó - disse, apontando para um retrato de Jair Renan, que à época tinha cerca de 1 ano e meio.
Questionado pela Folha sobre o aborto, em 2018, Bolsonaro manteve a resposta que deu à Istoé Gente, em 2000. "Não compete ao outro lado", o do homem, dizer se a mulher deve ou não interromper uma gravidez. "Vamos supor que eu tenho um relacionamento contigo. Você quer o aborto." Bolsonaro afirmou, então, que caberia à repórter definir o que fazer nesse caso.
Jair Renan é o quarto filho de Bolsonaro. Ele nasceu em 10 de abril de 1998, no Rio de Janeiro, durante o relacionamento do agora presidente com a advogada Ana Cristina Siqueira Valle.
No entanto, quando ela engravidou os dois ainda eram casados com outras pessoas e a gravidez chegou a motivar a separação de Bolsonaro e Rogéria, mãe de Flávio, Carlos e Eduardo, os três filhos mais velhos de Bolsonaro.
Quando Jair Renan nasceu, foi Ana Cristina quem registrou o filho no cartório. No primeiro documento, o bebê foi registrado como "Renan Valle" e o documento não tinha a identificação do nome do pai. Interlocutores de Bolsonaro relataram ao Portal Uol que ele exigiu um exame de DNA. O reconhecimento da paternidade só ocorreu depois do teste, e uma nova certidão foi expedida pela 5ª Circunscrição do Registro Civil das Pessoas Naturais (Freguesias Lagoa e Gávea), no Rio de Janeiro, em 1º de fevereiro de 2001.
Nesse novo documento, a identidade do "filho 04" foi alterada para Jair Renan Valle Bolsonaro. Em 2018, Ana Cristina deu sua versão à revista Época sobre a mudança do nome. "Eu queria só Renan", contou. "Ele disse: 'Não, não vai ser Renan, vai ser Jair Renan. Não consegui botar nem um nome de filho meu de Jair, esse vai ter'."
Discurso de Lula
Essa semana, o pré-candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou que : "Aqui no Brasil, as mulheres pobres morrem tentando fazer aborto, porque é proibido, o aborto é ilegal". Ainda defendeu que o assunto seja discutido entre o casal. "Aqui no Brasil não faz (aborto) porque é proibido, quando na verdade deveria ser transformado numa questão de saúde pública, e todo mundo ter direito e não ter vergonha. Eu não quero ter um filho, eu vou cuidar de não ter meu filho, vou discutir com meu parceiro. O que não dá é a lei exigir que ela precisa cuidar", declarou.
As declarações motivaram críticas do bolsonarismo e dos filhos de Bolsonaro. No Twitter, Flávio escreveu: "Lula defende abertamente o aborto e ainda diz que a pauta da família e dos valores é uma pauta atrasada. Para os cristãos, que cogitam votar no bandido, deixo aqui a reflexão: Ou você é cristão ou defende quem é a favor do aborto. Os dois não dá!"
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