O prefeito do município de Luís Domingues (MA), Gilberto Braga (PSDB), voltou a afirmar que um dos pastores cobrou dele um quilo de ouro em troca de conseguir liberação de recursos no MEC (Ministério da Educação).

A declaração confirmando a acusação foi feita em audiência no Senado, organizada pela Comissão de Educação do Senado, nesta terça-feira (5). Participaram da audiência, prefeitos chamados a prestar depoimento após as denúncias de que houve suposta atuação de pastores na liberação de verbas do Ministério da Educação.

Segundo o prefeito de Luís Domingues, em 7 de abril do ano passado, ele foi a Brasília para participar de uma reunião no MEC. O objetivo do encontro seria discutir obras inacabadas vinculadas à pasta. Após a reunião, disse Braga, o pastor Arilton Moura convidou os prefeitos para um almoço.

"Até então, eu não conhecia o ministro da Educação. O pastor estava, sim, sentado à mesa na hora da palestra no MEC e, em seguida, nós fomos para esse almoço. E, lá nesse almoço, que não estava o ministro, só estavam os dois pastores, tinha uma faixa de uns 20 a 30 prefeitos. E a conversa era muito bem aberta. Ele virou para mim e disse: 'Cadê suas demandas?'. E ele falou rapidamente: 'Você vai me arrumar os 15 mil para eu protocolar as demandas e depois que o recurso tiver empenhado, depois, como a sua região é de mineração, vai me trazer 1 quilo de ouro'. Eu não disse nem que sim nem que não, me afastei da mesa e fui almoçar", disse Braga.

Ainda durante a audiência no Senado, o prefeito de Luís Domingues disse que a conversa foi "aberta" e que todos que estavam à mesa ouviram.

"Então, eu acredito que ele tenha feito várias propostas para outras pessoas", disse Gilberto Braga.

O prefeito de Boa Esperança do Sul (SP), José Manoel de Souza, reafirmou, ainda durante a audiência da Comissão de Educação do Senado, que o pastor Arilton Moura pediu R$ 40 mil de propina, também para conseguir a liberação de recursos no MEC.

"O Arilton perguntou: 'Você sabe muito bem como funciona, né? O Brasil é muito grande, não dá para ajudar todos os municípios. Mas eu consigo te ajudar com uma escola profissionalizante. Eu faço um ofício agora, chamo a Nely, você assina um ofício, coloco no sistema e, em contrapartida, você deposita R$ 40 mil na conta da igreja evangélica'", informou o prefeito.

Entenda o caso

No último dia 22 de março, repercutiu uma gravação na qual o então ministro da Educação, Milton Ribeiro, dizia a prefeitos que, a pedido do presidente Jair Bolsonaro, repassava verba a municípios indicados por pastores. O episódio levou à demissão de Milton Ribeiro.

Os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos integravam, segundo as denúncias dos prefeitos, o chamado "gabinete paralelo" do MEC, tendo trânsito livre na pasta e exercendo influência sobre a destinação de verbas da pasta e também sobre a agenda do então ministro Milton Ribeiro.

Quando o áudio de Milton Ribeiro se tornou conhecido, Gilmar Santos divulgou uma nota na qual negou envolvimento com qualquer ato ilícito ligado ao Ministério da Educação.

Afirmou ainda não fazer parte do chamado "gabinete paralelo" e negou ter atuado em qualquer "ato de corrupção", acrescentando não exercer influência sobre a pasta ou sobre Milton Ribeiro.