Decreto da Prefeitura de Belo Horizonte que aumentou intervalos entre viagens durante a pandemia está suspenso desde fevereiro. Levantamento da reportagem analisou todos os quadros de horários das linhas que circulam em dias úteis, na capital.
Acordar mais cedo para não perder o ônibus. Esta é a rotina de milhares de pessoas que dependem do transporte coletivo de Belo Horizonte. O desafio para muitos começa ainda no bairro, à espera de um ônibus de linha alimentadora, que pode demorar até 40 minutos. E os passageiros ainda precisam lidar com quadros de horários desatualizados.
Com o fim do decreto municipal que determinava ações voltadas a prevenção do coronavírus no transporte, em fevereiro, as regras previstas no edital de licitação de 2008 teriam que voltar a valer.
Nos últimos dois anos, por causa da pandemia, as empresas foram autorizadas a ampliar o intervalo entre as viagens nos horários de pico, com limite máximo de 30 minutos entre uma partida e outra e 40 minutos fora do horário de maior demanda.
Na época, o decreto também determinou a capacidade máxima de passageiros em pé nos ônibus, sendo 20 pessoas em pé em veículos articulados do Move, 10 para ônibus convencionais e cinco pessoas em micro-ônibus.
Agora, uma série de medidas devem voltar a ser cumpridas pelos consórcios operadores do sistema municipal de transporte. Em relação ao quadro de horários, as linhas troncais que saem dos terminais com destino a outras regiões da cidade devem ter intervalo máximo de 15 minutos entre uma viagem e outra no período de pico e de até 20 minutos fora deste período.
Para as linhas circulares, o período de horário de pico é o mesmo, mas com intervalo maior fora desta faixa, de 30 minutos. Para as outras linhas, ficou definido o limite de até 20 minutos entre as viagens realizadas no horário de pico e de 30 minutos nos outros períodos.
Porém, 92% das 282 linhas que circulam por Belo Horizonte entre segunda e sexta-feira estão com os horários irregulares. Nos períodos de pico, 62% das linhas extrapolam o limite entre uma viagem e outra. A maior parte tem um intervalo de 30 minutos e, em alguns casos, o passageiro chega a esperar até uma hora por um ônibus.
É o caso da linha 6031, que liga a Cidade Administrativa ao Centro de Belo Horizonte e que opera apenas no período de pico. Quem perde um ônibus precisa esperar bastante pelo próximo.
Os passageiros das linhas 1510 (Madre Gertrudes / Providência), 328 (Estação Barreiro / Cardoso B) e 705 (Estação São Gabriel / São Tomaz) podem aguardar até 40 minutos por um ônibus pra conseguir chegar ao trabalho.
Fora do horário de pico, 29,9% das linhas não respeitam as regras para a realização de viagens que deveriam variar entre 20 a 30 minutos de acordo com o serviço. Tem gente que pode esperar até 50 minutos por um ônibus.
Apenas 23 linhas, o que representa 8,1% do total, estão circulando com o quadro de horários que se encaixa nas regras atuais entre as viagens.
Volta para casa
A volta pra casa ainda tem se mostrado mais complicada. Em toda a cidade, 117 linhas estão com o intervalo de uma hora ou mais entre as viagens. A redução drástica começa na maioria destas linhas por volta das 19 horas.
A Estação São Gabriel é o terminal mais afetado por esta mudança, são 19 linhas que a partir das 20h têm saídas a cada hora. Em seguida, a Estação do Barreiro contabiliza 11 linhas nesta mesma situação, seguida pelas estações Vilarinho e Pampulha, com sete linhas cada.
“É um absurdo! Você chega cansado, fica no ponto do ônibus, você fica na estação e não tem ônibus. É um absurdo, às vezes você fica 40 minutos esperando um ônibus sem conseguir pegar. E superlotado”, disse a aposentada Maria de Carvalho.
Aumento da tarifa à vista
Diante das reclamações dos passageiros, as tarifas do transporte coletivo de Belo Horizonte, que não sofrem reajustes desde 2018, vão ficar mais caras. Na última terça-feira (5), a Justiça determinou que a Prefeitura de Belo Horizonte realize o aumento das tarifas, após uma ação das empresas.
No dia 31 de março, o prefeito Fuad Noman (PSD) havia dito que, se a Justiça acatasse o pedido do sindicato das empresas, a tarifa poderia chegar a R$ 5,75. Agora, o valor defendido pelos empresários do transporte para a tarifa predominante é de R$ 5,85, um aumento de 30% em relação a tarifa atual, que custa R$ 4,50.
A prefeitura ainda não divulgou o novo valor nem quando passará a valer. Mas já disse que acatou a decisão judicial.
"Daqui a pouco vai estar todo mundo andando a pé ou de bicicleta. Não tem condições de pagar ônibus", reclama a técnica em enfermagem Sônia Maria da Cunha.
Outro lado
Em relação aos horários das linhas de ônibus, a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) informou que todos os quadros de horários aprovados pela autarquia “contemplam o estabelecido no contrato. Se as empresas não os cumprem, a BHTrans aplica infrações de índole operacional em todo o sistema, considerando os descumprimentos da especificação aprovada".
O Portal g1 procurou o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH), que representa as empresas, e aguarda retorno.
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