O Brasil pode reduzir em até 1,1 milhão o número de mortes por covid-19 se adotar medidas precoces de supressão da doença, de acordo com estudo do Imperial College de Londres publicado na última 5ª feira (26.mar.2020).

No melhor cenário –em que práticas como distanciamento social, testes em massa e isolamento dos diagnosticados e seus parentes são adotadas com antecedência– os pesquisadores estimam 44.200 mortes por covid-19 no Brasil. Sem nenhuma medida de combate à pandemia, o número salta para 1,15 milhão de óbitos.

Os pesquisadores estimaram o número de infectados, hospitalizados e mortos em 5 situações diferentes para diversos países. Sintetizando as estimativas para o número de óbitos no Brasil em cada uma delas:

A diferença da supressão tardia e da precoce é em que momento as medidas (distanciamento social, testes em grande escala e isolamento dos diagnosticados) começam a ser implementadas.

No 1º caso, as ações são adotadas quando se chega à taxa de 1,6 morte a cada 100 mil habitantes na semana. No 2º caso, a taxa cai para 0,2. Portanto, as medidas são implementadas mais cedo, o que se traduz no menor número de infectados e mortos pelo novo coronavírus.

Eis uma tabela resumindo as informações dos 5 cenários:

Nos cenários de distanciamento social, os pesquisadores supõem que a população como 1 todo reduza suas interações em 44%. Já em ambos os casos de supressão, a porcentagem sobe para  75%.

Os cálculos foram elaborados com base nos dados da China e de países com grande número de infectados. As diferenças nos sistemas de saúde podem resultar em padrões diferentes daqueles estimados pelo estudo, ponderam os autores.

Eles também fazem uma ressalva quanto ao aspecto econômico das medidas analisadas:

Nós não consideramos os grandes impactos sociais e econômicos da supressão, que serão altos e podem ser desproporcionais em ambientes de baixa renda. Além disso, estratégias de supressão precisarão ser mantidas até que vacinas ou tratamentos efetivos estejam disponíveis para evitar o rico de epidemias tardias. Nossa análises destaca as decisões desafiadoras enfrentadas por todos os governos nas próximas semanas e meses, mas demonstra a extensão em que ações rápidas, decisivas e coletivas podem salvar milhões de vidas.”

Bolsonaro quer isolamento vertical

O presidente Jair Bolsonaro afirma que o impacto econômico pode ter 1 custo maior em vidas do que a covid-19. Em entrevista, o presidente defendeu que apenas idosos e pessoas com doenças crônicas fiquem confinadas.

O objetivo é manter a economia funcionando para minimizar o que o ministro da Economia, Paulo Guedes, chamou de “2ª onda” – a recessão econômica. A 1ª onda é a crise de saúde gerada pelo novo coronavírus.



O governo federal lançou nessa 5ª feira (26.mar.2020) uma campanha defendendo o isolamento apenas de idosos e pessoas em situação de risco, bem como a manutenção das atividades econômicas.

O chamado isolamento vertical (em contraposição ao horizontal, que é válido para todos) não tem uma equivalência direta nos cenários traçados pelo Imperial College que, como já exposto, supõem redução de pelo menos 44% de todas as interações sociais ao considerar medidas restritivas.

Em outros países: não funcionou

O prefeito de Milão, na Itália, apoiou uma campanha em fevereiro intitulada “Milão não para”. Nessa 6ª feira (27.mar), ele se desculpou pelo gesto.

A região da Lombardia, onde Milão está situada, havia contabilizado 250 pessoas infectadas e 12 mortos pelo novo coronavírus à época em que a campanha foi lançada. Hoje, a província italiana é a mais atingida pela covid-19: há 32.346 confirmações de pessoas contaminadas e 4.474 óbitos registrados pelos órgãos oficiais do país.

A Itália é o país com o maior número de mortos por covid-19 no mundo. Fizemos um levantamento do perfil dos pacientes no país.

A nível nacional, Bolsonaro não é o 1º chefe de nação a resistir a 1 distanciamento social generalizado. O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, que foi diagnosticado com covid-19 nesta 6ª (27.mar), também relutou a adotar medidas mais severas.

Na última 2ª (23.mar), Boris Johnson seguiu o exemplo da Itália e da Espanha e decretou quarentena geral. Ele se baseou em 1 outro estudo do Imperial College para endurecer as restrições.

O presidente norte-americano, Donald Trump, defendia uma postura semelhante à de Bolsonaro até esta 6ª. No início da semana, ele cobrou do Congresso norte-americano formas para a economia voltar à normalidade.

Desde então, os EUA ultrapassaram a China em números oficiais de casos. Mais de 104 mil pessoas contraíram a covid-19 e 1.700 morreram devido à doença nos Estados Unidos. Nesta 6ª, Trump afirmou que o país fará “o que for preciso” para lidar com a crise.

Ele sancionou 1 plano emergencial de US$ 2 trilhões para socorrer a economia norte-americana.

Recomendações da OMS

O diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Ghebreyesus, afirmou que “pedir às pessoas que fiquem em casa e outras medidas de distanciamento físico são uma maneira importante de desacelerar a dispersão do vírus e ganhar tempo”.

Contudo, Ghebreyesus afirma que serão necessárias medidas mais “agressivas” para conter a pandemia, como a testagem em massa e o isolamento de todos os casos confirmados e pessoas próximas aos diagnosticados.


O que diz o Ministério da Saúde

O secretário-executivo da Saúde, João Gabbardo, afirmou que o pronunciamento de Bolsonaro não altera as recomendações da pasta. Além de evitar aglomerações, o ministério aconselha o isolamento nos seguintes casos:

* pessoas diagnosticadas com covid-19 e seus familiares;
* pessoas com mais de 60 anos;
* e pessoas com comorbidades (doenças crônicas).

O Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, defendeu o posicionamento de Bolsonaro. Ele disse que uma quarentena sem prazo para acabar oferece riscos ao próprio sistema de saúde.

Mandetta e sua equipe se queixaram de dificuldade para distribuir equipamentos –sobretudo às Regiões Norte e Nordeste— devido às restrições de circulação impostas por governadores e a redução de voos comerciais.

O ministro quer elaborar 1 plano conjunto com governadores para adotar medidas graduais conforme a evolução do número de casos.

Covid-19 no Brasil

Na última 5ª feira (26.mar), Gabbardo afirmou que os diagnósticos continuarão aumentando, no mínimo, ao longo do próximo mês. Parte disso se deve à ampliação do número de testes de 10 milhões para 22,9 milhões, com a ajuda de doações de empresas públicas e privadas.

O ministério deve apresentar estimativas de novos casos e óbitos na tarde de sábado (28.mar).

Até a publicação desta reportagem, o Brasil tinha 3..417 diagnósticos confirmados e 93 mortes –sendo 1 óbito contabilizado no Distrito Federal, depois da atualização diária da pasta de saúde.