Governo de Minas confirma projeções de especialistas de que a doença pode se multiplicar no próximo mês no estado caso não haja vacinação em massa e isolamento
A alta de infecções (+4,47%) e mortes ( 42,27%) provocadas pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) projetada por especialistas para o próximo mês e retratada pela reportagem do Estado de Minas da última terça-feira (13/04) também é tendência observada pelo governo estadual. Em Belo Horizonte a tendência é de queda.
Sem citar os dados de suas projeções ou expectativa de novo pico, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) afirma que periodicamente realiza projeções de casos e óbitos pela COVID-19.
"De acordo com as últimas projeções realizadas, estima-se que continuarão aumentando o número de casos observados e o número de óbitos", informa a SES-MG, mas que ressalta não aconselhar "a comparação puramente dos resultados com outras pesquisas, sem levar em conta a metodologia de construção dessas projeções e os parâmetros utilizados nas modelagens. Ressalta-se a necessidade de ter cautela no uso das estimativas encontradas".
As projeções usadas pela reportagem são do modelo Geocovid MapBiomas, de cinco universidades públicas, ONGs e empresas de tecnologia. Traziam a expectativa para o dia 13 de maio deste ano. Atualizando essas previsões, tendo em vista os dias que transcorreram até a resposta da SES-MG, observa-se ligeiro agravamento da taxa de evolução de casos, de 4,47% para 6,29%, e de manutenção na taxa de evolução de mortos, em alta de 42,27%.
Na perspectiva da SES-MG, o aumento de casos e óbitos é decorrente de uma combinação de fatores. "O afrouxamento do distanciamento social, a diminuição da atenção aos protocolos sanitários no final de 2020 e início de 2021, além da circulação de novas variantes do coronavírus em território mineiro. O efeito dessas variantes ainda está sendo investigado, mas parte dos estudos já indicam uma maior virulência e transmissibilidade", informa.
Para o médico diretor da Sociedade Mineira de Infectologia e membro do comitê de enfrentamento da COVID-19 na Prefeitura de Belo Horizonte, Carlos Starling, sem uma vacinação ampla e eficiente, a perspectiva é sim de aumento dos casos e mortes sem vacinação e isolamento.
“Muito provavelmente, com esse ritmo lento de vacinação, vamos demorar uns dois anos para se ter um impacto relevante. Poucas vacinas chegam aos poucos. Até há uma perspectiva de chegarem mais vacinas no segundo semestre deste ano, aí pode ser que em meados do próximo ano tenhamos uma melhora consistente. Para este ano é irreal uma melhora só com vacinação”, prevê Starling.
A SES-MG destaca como medidas já tomadas para frear a epidemia no estado e restabelecer a capacidade de assistência hospitalar. "O Governo decretou ao longo do mês de março e abril maiores restrições de circulação, por meio do que foi intitulado “Onda Roxa”.
As regras incluem ainda a proibição de circulação de pessoas sem o uso de máscara de proteção, em qualquer espaço público ou de uso coletivo, ainda que privado; a proibição de circulação de pessoas com sintomas gripais, exceto para a realização ou acompanhamento de consultas ou realização de exames médico-hospitalares; proibição da realização de qualquer tipo de evento público ou privado que possa provocar aglomeração, ainda que respeitadas as regras de distanciamento social".
Destacou, ainda, que trabalhou desde o início da pandemia e continua atuando "arduamente" para a readequação e ampliação de sua rede assistencial para conseguir abarcar um maior número de internados.
"Os indicadores são monitorados diariamente, e avaliados semanalmente para todas as regiões do estado de modo a embasar a tomada de decisão acerca das medidas de contenção da pandemia do novo coronavírus".
O modelo Geocovid MapBiomas um esforço de cinco organizações acadêmicas (UEFS, UFBA, UESC, UNEB e IFBA), empresas emergentes de base tecnológica (GEODATIN e SOLVED) e o MapBiomas, que criaram essa ferramenta para monitorar o avanço da COVID-19 no Brasil.
Lockdown e vacina - Além de uma cobertura mais ampla e veloz pela vacinação, o médico diretor da Sociedade Mineira de Infectologia e membro do comitê de enfrentamento da COVID-19 na Prefeitura de Belo Horizonte, Carlos Starling, sugere o lockdown como uma ferramenta eficiente.
“Uma coisa que pode ser feita é um lockdown em uma ou outra cidade para o sistema de saúde não entrar em colapso. Isso deve, sim, ser avaliado e feito sempre que necessário”, observa o diretor da Sociedade Mineira de Infectologia.
“Minas Gerais é do tamanho da França. Há regiões melhores e muito piores. O manejo da epidemia em MG é diferente, até mesmo a forma onde a epidemia está em pico, em uma determinada região, e em outra está melhor”, avalia Starling. Segundo o médico, não há medida única.
“Deveria ter sido feito um lockdown de 14 a 21 dias em todo o país para se ter uma queda importante nos números. Mas essa medida não foi considerada pelo governo federal e vamos viver, de agora para frente, com a epidemia indo e vindo. Se as pessoas relaxarem muito o isolamento, isso aumenta a mobilidade e a epidemia volta com tudo. Aí, alguns locais se fecham e a epidemia recua de novo. Era preciso ter uma coordenação nacional”, avalia.
O que é um lockdown?
Saiba como funciona essa medida extrema, as diferenças entre quarentena, distanciamento social e lockdown, e porque as medidas de restrição de circulação de pessoas adotadas no Brasil não podem ser chamadas de lockdown.
Fonte: Jornal Estado de Minas
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