Nas redes, a empregada doméstica recebe críticas por fazer viagens para lugares caros.
Yanina vive na Argentina, e usa o TikTok para dar dicas de limpeza e mostrar suas viagens ao redor do mundo, reforçando que faz questão de se proporcionar esses “prazeres”.
No mundo inteiro, as diferenças sociais costumam categorizar indivíduos e experiências, fazendo com que a segregação social (que caminha lado a lado com a racial) seja uma realidade na vida de milhões de pessoas. Ambientes e vivências acabam sendo elitizados, como se fossem feitas apenas para aqueles que têm um poder aquisitivo que supere uma quantidade estipulada, fazendo com que determinados grupos sociais nunca consigam experienciar determinados lugares, cidades e países porque nunca terão dinheiro suficiente para isso.
Junto com o elitismo, o preconceito acaba sendo uma ferramenta de manutenção de controle, e muitos indivíduos acabam não usufruindo de determinados espaços porque acreditam verdadeiramente que não conseguem se inserir socialmente, sendo excluídos ou se sentindo dessa forma. Para a empregada doméstica Yanina Alfaro, de 44 anos, o trabalho considerado “invisível” não funciona como uma barreira, e sim como um trampolim para realizar os sonhos que alimenta.
Segundo reportagem do Infobae, Yanina mantém uma conta no TikTok, fazendo sucessivas postagens virais que vão desde dicas de limpeza a viagens luxuosas internacionais. Vivendo em Ingeniero Maschwitz, na Argentina, ela sempre reforça que viajar é sua maior paixão, e que seu trabalho é a forma que encontrou para conseguir realizar seus objetivos. Nas redes sociais, muitos criticam seu estilo de vida, e acabam demonstrando preconceito com a profissional, como se existissem categorias de pessoas que podem tirar férias em países estrangeiros e outras que não.
Yanina conta que tudo é fruto do seu esforço, e que sua jornada de trabalho não gira em torno de 4h por dia, ela passa 12h diárias para conseguir a renda atual. Embora a carga horária não respeite leis trabalhistas, ela explica que dessa forma já conseguiu viajar quatro vezes apenas este ano, sempre para destinos turísticos invejáveis. Sua conta no TikTok acabou se tornando conhecida pelo conteúdo sobre limpeza que sempre compartilhou, sendo que boa parte de seu público-alvo eram meninas que também limpavam casas.
A influenciadora é casada com Nicolás há cerca de 10 anos, e ele trabalha em uma empresa de limpeza, o que reforça ainda mais os estereótipos que um segmento do público carrega. Segundo Yanina, sempre que compartilha vídeos de sua casa ou das viagens que faz, uma chuva de perguntas discriminatórias aparecem, sempre passando a ideia de que ela e o companheiro não podem ter uma vida boa, eletrodomésticos de ponta em casa e muito menos fazer viagens internacionais, já que trabalham com limpeza.
Muitos apontam que os luxos que conquista ou consome são fruto de algum auxílio que recebe do governo, e essa e outras declarações preconceituosas acabaram fazendo com que ficasse ainda mais determinada a mostrar sua rotina. “Eu gosto de aproveitar a vida. E quem não? Você não sabe quanto tempo vai viver. Então, para me divertir como quero, tenho que acordar às seis da manhã, porque ninguém vai me dar nada. Acordo cedo e depois passo uma semana no hotel mais caro de Ushuaia.”
Yanina vai além, e explica que para os clientes, ter uma empregada doméstica em casa é manter um serviço de luxo, justamente por isso, defende que os pagamentos precisam ser altos. Querer uma casa impecável, como se morasse em um hotel, é um serviço que nem todos podem acessar, e ela reforça que os outros profissionais da mesma área também deveriam cobrar caro pelas suas horas, assim todos trabalham bem e sem atrapalhar a renda de outros profissionais, diminuindo o nível.
“Eu administro meu tempo aqui. Se eu não for trabalhar não é a morte de ninguém. Não é que eu cuido de meninos. Se um dia eu não for limpar, nada acontece. Se eu ficar doente, nada acontece. Se eu tiver que pedir um dia, também não. Se eu quiser férias, menos. E também cobro bem. Trabalhando em um escritório, eu ganhava muito menos, então não fechei. Eu não tenho que estar aturando as pessoas também. Quando trabalho agora estou sozinha e me dedico a limpar, fazer minha vida. Ninguém me incomoda“, diz.
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